segunda-feira, setembro 04, 2006

O meu melhor AMIGO

Memórias de um Lobo Solitário
Olá

Meus amigos, hoje decidi falar-vos do BILL.

Não é o Bill Clinton, muito menos o Bill Gates, é alguém muito mais importante, pelo menos para mim.

O BILL de que vos falo, é um canídeo, um puro exemplar da raça Serra da Estrela. É um soberbo cão de 78Kg, pêlo comprido em tons castanhos e preto, com uns olhos acastanhados, que transmitiam muita serenidade e doçura.

Conheci o BILL, quando estava na Força Aérea, como tratador/treinador de cães militares.

Foi-me apresentador e distribuído, após o meu anterior cão ter falecido, de ataque cardíaco…mas isso é outra história.
A primeira impressão que tive dele, foi se nos iríamos entender, pois o meu anterior parceiro era mais activo e nervoso, já o BILL era oposto. Quanto ao que ele pensou de mim…não sei…talvez o mesmo ou pior.
Mas apartir desse momento, equipa estava constituída e começamos a trabalhar juntos.

Eu, como pouco tempo vinha a casa, passava-o maior parte das vezes na Unidade, não por obrigação mas por opção, e com o passar do tempo, fomo-nos conhecendo melhor.

O nosso tempo, era divido em treinos; serviço de guarda 24horas e brincadeiras.

O meu amigo ia aturando as minhas maluqueiras e mau-humor e eu a pachorrenta calma dele.

Os momentos que guardo na memória, para toda a vida, é o tempo em que eu passava a escovar e a pentear o BILL. Com um pêlo tão comprido e imenso, aquile momento demorava mais que as outras equipas e como tal, foi fundamental para a fortalecer a nossa amizade.

O BILL, adorava aqueles momentos e eu sentia cada vez mais orgulho no meu parceiro.

De Verão, sofria um pouco com o calor e por isso optamos por treinar, de manha cedo ou á noite. Não é que se recusasse a treinar nas horas de calor, mas uma equipa é isso mesmo, compreensão mútua, da mesma forma que ele compreendia os momentos em que a vontade de trabalhar era pouca da minha parte, quando estava ressacado da bebedeira da noite anterior.

Com o passar do tempo, tornamo-nos companheiros inseparáveis. Só não dormíamos juntos…bem …aos fins de semana dormíamos…ou seja, os cães não podiam frequentar os alojamentos, excepto em serviço, mas apartir de Sexta –feira á noite até Segunda-feira de manha, levava o BILL para o meu quarto e dormir na cama ao lado. Sim, na cama ao lado da minha!!!!

De manha quando me levantava, para tomar banho, sem proferir uma palavra, bastava pegar na toalha e o meu companheiro, lá me acompanhava. Durante o banho, o BILL deitava-se no balneário á espera que eu terminasse.

Claro que depois, acompanhava-me ao Bar para o pequeno-almoço.

Tudo isto, gerava muitos protestos, quer pelos colegas de quarto quer pelo barista e demais utentes, mas a amizade era mais forte…
Houve momentos, em que partilhou comigo o seu canil, e ali ficávamos os dois a dormir…aquilo é que era sossego...e dormir.

Podem não acreditar, mas chegamos ate a frequentar a piscina da Unidade, perante os gritos do soldado responsável pela piscina. Eu havia-lhe prometido que o levava á piscina e uma promessa deve ser cumprida.

Mas como todas as equipas, também tínhamos os nossos desentendimentos e uma delas acabou comigo engalifado com o meu amigo, acabando por eu o morder numa orelha…só assim a luta era justa, acabando pela nossa amizade ficar ainda mais fortalecida

Quando o BILL, arranjou uma namorada na Base Aérea em Maceda – Ovar, eu acompanhava-o todos os anos durante 15 dias para ele namorar e cumprir a sua “obrigação” como puro macho. O quanto nos divertimos nessas alturas.

Quando fazíamos serviço, dava-lhe dois litros de leite, um á noite e outro de manha, que era para ser distribuído aos soldados. Eles reclamavam, mas no fundo compreendiam.

Confiávamos um no outro, cegamente e não estou a exagerar.
Foi a amizade mais pura e sincera, que eu tive e jamais tirei na vida.

Quando desmobilizei da Força Aérea, o BILL continuou ao activo. Esse ultimo dia, foi o mais difícil…eu sabia que ambos íamos seguir destinos diferentes e ele também o pressentia. Tentei tudo por tudo para o comprar á Força Aérea, ele havia custado 50 contos eu oferecia 500 contos, isto em 1995 era bastante dinheiro, mas para mim o importante era levar o meu companheiro comigo e continuarmos juntos, mas isso não foi possível.

A nossa última noite juntos, foi passada no canil. As lágrimas corriam e BILL cabisbaixo, encostava-se a mim para me reconfortar e sentir-mos o contacto físico um do outro. Custou-me imenso separar-me do BILL…

Passado um ano, decidi visitar o BILL.
Já com um novo tratador, este dizia-me que o BILL, mais parecia um ovelha que um cão. Não tinha alegria nem vivacidade nenhuma.

Quando fui com o seu actual tratador ao canil, dei um berro pelo seu nome…e o BILL parecia louco, saltava, ladrava de alegria. O seu tratador ficou estupefacto.
Abri a porta do canil e BILL, corria como um louco de um lado para o outro, saltava e andava de volta de mim.

Acabamos abraçados, por uns longos minutos.
Que saudades tinha do meu amigo…

Ainda hoje, quando recordo o BILL, me arrepio todo… Que saudades tenho do seu olhar…do seu pêlo comprido e macio…até do seu calor…

É algo que só quem vive algo semelhante, é que entende o que eu sinto.

Costumo dizer, que o melhor contrato que o Homem alguma vez fez, foi com o Cão. Pouco ou muito que o Homem dê ao Cão, este por sua vez dá tudo ao Homem. Além de que o cão é o melhor amigo do Homem, por sua vez há ocasiões em que o Homem é o pior amigo do Cão.

Desta forma presto a minha homenagem, ao meu melhor amigo de todos os tempos…

AAAAAAAAAAUUUUUUU
AAAAAAAAAAAAUUUUUU

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Meu caro amigo Wolf.

Gostei imenso de ler a sua crónica sobre o seu melhor AMIGO.

Tudo o que nela menciona é bem verdade, isto faz-me lembrar um ditado muito antigo que é: "quanto mais conheço os Homens mais gosto dos Cães".

Eu sei dar o valor perder um amigo destes, o meu cão teve um final um pouco mais triste, mas enquanto viveu, ele entendia-me, sentia quando eu estava triste e fazia tudo por tudo para estar a meu lado, sentia também quando algo me acontecia de bom, enfim eu via nele, embora não podesse falar, mas o seu olhar conseguia dizer mais que certas palavras, um verdadeiro Amigo.

Enfim, hoje em dia sinto a sua falta, mas recordo-o com muita alegria.

Meu Amigo Wolf, fez muito bem em fazer esta homenagem a quem realmente foi seu fiel Amigo.

Os meus cumprimentos.

Pussy-cat

5 de setembro de 2006 às 00:32  
Anonymous Anónimo said...

O " Amigo"

Tens que combater essa falta,essa ausencia,preencher esse vazio.Para isso arranjas outro "amigo".

Como ja sabes,nada é mais amigo e fidelissimo que o cão.Se sei também o que falo!!

Pelo menos ouve-nos embora não responda,não nos contraria e principalmente não se falseia fazendo-nos pensar que é amigo sem o ser...sim porque nós os seres racionais temos a tendência a falsear e quando menos se espera ( até porque nada é para sempre e nem um mar de rosas ) outros seres racionais dao-nos o tal toque de maldade,intencional ou não,mas que nos afecta.

Arranja um "Amigo" novo.

Angel

5 de setembro de 2006 às 12:59  
Anonymous Anónimo said...

Wolf:

Conforme ía lendo o teu desabafo sobre o BILL, dentro de mim ía havendo uma reacção de comoção... de tal forma, que me deixou algum tempo "descontrolada".

Tocou-me forte esta história de pura AMIZADE, e levou-me a fazer uma retrospectiva dos animais que já passaram pela minha vida; digo "passaram", porque agora não tenho nenhum. Compreendo-te perfeitamente, e sei bem o que sentias enquanto estavas com "ele", e o que sentiste quando tiveram que se "separar". É terrível! É a tal realidade: amar é sofrer!...

A pura afeição pelos animais, pelas pessoas, pelas coisas... deixam-nos sempre marcas.

Tive alguns cães e um gato, mas já "partiram". O BILL fez-me lembrar o RUBI, o meu último cão. E fica-me um nó na garganta só de relembrar isto, mas às vezes é preciso rebuscar as "marcas" positivas que certas "Amizades" nos deixam.

O RUBI era meu; só meu. Lá em casa havia outro cão e por isso notava-se bem que ele não existia para mais ninguém, sabe-se lá porquê. Sempre que eu entrava em casa ele pressentia, e mesmo antes de chegar ao pé dele, ele já dava sinais de alegria! Em contrapartida, reagia mal às outras pessoas. Era um cão extremamente nervoso, muito vivo. Mas tinha um olhar tão bonito...

Aos fins de semana, e porque a casa é muito grande (refiro-me ao terreno), e porque era quando eu tinha mais tempo para o fazer... mal eu saía em direcção ao campo ou ao pinhal, ele corria à minha frente. Já sabia para onde eu ía, e chegava lá primeiro. Como aprecio imenso a natureza, sempre gostei de me sentar no chão a apreciar o verde da paisagem e a sentir o cheiro mesclado dos pinheiros e eucaliptos, enquanto pensava na vida. E o RUBI sentava-se sempre ao pé de mim. Só se levantava quando eu também o fazia. Era um fiel companheiro... e era assim todas as vezes, parece que me entendia.

Até que um dia... estava a decorrer uma festa de família lá em casa, e eu, distraída, sei lá, não percebi a tempo que o RUBI se estava a "despedir". Encontrei-o com um olhar triste, muito parado, o que era fora do normal, e fiquei preocupada, mas... como estava muito ocupada com a família, não lhe dei a devida importância ou atenção. Como me arrependo, meu Deus. Entretanto desapareceu daquele lugar e nunca mais o vi. No dia seguinte procurei-o por todos os cantos da casa, chamei-o, mas nada. Ele andava sempre solto, daí a dificuldade em encontrá-lo. Nem imaginam a tristeza e o peso da consciência que eu senti enquanto não soube o que lhe havia acontecido. Apesar de me passar pela cabeça que podia ter morrido, não era isso que eu queria, e por isso a angústia aumentava dentro de mim. Até que ao 3º dia do seu desaparecimento, a minha mãe encontrou-o morto junto à casa, num lugar abrigado, como que escondido; penso que soube escolher o melhor sítio para "repousar". Acreditem que doeu, mas o facto de saber que tinha aparecido, aliviou-me imenso. Chorei. Sofri muito. Culpei-me de não lhe ter prestado a atenção que se calhar ele me "pediu" naquele dia (de festa). Lamento RUBI, mas não percebi.

Pois é: se fosse uma pessoa, talvez fosse diferente, e por vezes um animal dá-nos muito mais que um ser humano.

Recordo-o muitas vezes, mas prefiro sempre lembrar os nossos bons momentos.

Sei que era mútua a afeição que tínhamos um pelo outro, e isso basta para me deixar feliz.

Continuo sem entender o facto de haver tantos cães abandonados por este país fora...

E ainda se diz que certas pessoas se parecem com animais! Isso é um elogio! Os animais não fazem mal a ninguém, apenas respondem à reacção do Homem!

Ainda bem Wolf que te lembras-te de fazer uma homenagem ao BILL...
assim "levaste-me" a prestar a minha ao RUBI. Saudades!!!...

Se o melhor Amigo do Homem é o cão... porque não lhe retribuír essa Amizade???

Cumprimentos a todos.
Um forte abraço Wolf.

J.DEERE

(06/09/2006)

6 de setembro de 2006 às 10:59  
Anonymous Anónimo said...

Depois de ler o artigo não consegui escrever nada de seguida, pois fiquei absolutamente sem palavras pela transcrição de algumas cenas passadas, tive momentos de puro arrepio.
talvez pelo facto de amar os bichos e ter um cão incrivel, mas esta crónica descreve de forma sublime o amor reciproco do homem/animal. Parabéns.
---Do Amigo Cassiano

26 de setembro de 2006 às 04:34  
Anonymous Anónimo said...

Depois de ler o artigo não consegui escrever nada de seguida, pois fiquei absolutamente sem palavras pela transcrição de algumas cenas passadas, tive momentos de puro arrepio.
talvez pelo facto de amar os bichos e ter um cão incrivel, mas esta crónica descreve de forma sublime o amor reciproco do homem/animal. Parabéns.
---Do Amigo Cassiano

26 de setembro de 2006 às 05:17  
Anonymous Anónimo said...

Olá amigo Wolf:
Acredita que esta tua crónica me deixou com lágrimas nos olhos, sem dúvida que ter um amigo verdadeiro é o de melhor que no Mundo há.
Ter uma amizade sincera, sem interesse, sem espectativas que que vás receber algo em troca é maravilhoso.
Obrigado por me deixares fazer parte dos leitores do teu blog, estou a adorar conhecer-te melhor e conhecer este teu lado sensivel e puro que há em ti.
Quem não gostaria de ter um amigo como tu?
Beijos e continua assim.
Da tua amiga Dina Susana, para os amigos como te considero Dininha.

13 de novembro de 2006 às 00:04  
Blogger saidemota said...

Todos os caes que tive, deixaram-me muitas marcas profundas de amor. Nunca esquecerei o amor que eles me deram, pedindo tao pouco...."São o Melhor Amigo do homem" disso ninguem tem duvidas...mas ainda hà quem lhes queira mal...e pouco se faz para travar essa "Matança"...
http://www.youtube.com/watch?v=09nb755eF_4


Não hà como substituir o nosso melhor "amigo"...
Wolf, porque não tentas recuperar novamente o teu amigo, quem sabe ele já não tem as qualidades que são exigidas pelos superiores...quem sabe eles o queiram despachar, não sabes ... ;)

11 de março de 2007 às 22:05  
Anonymous Anónimo said...

Carissimo amigo
Não tenho palavras...

18 de janeiro de 2008 às 14:57  
Anonymous crato said...

Meu caro vou enviar-te imagens do meu REX. Um SERRA espectacular.

Rato

17 de julho de 2009 às 17:25  
Anonymous Anónimo said...

Meu Estimado Amigo Wolf,
Sem mais comentários , à linda Homenagem que fazes ao teu melhor
e mais " FIEL AMIGO ".
Sou da mesma opinião ; " ( Quanto mais conheço o homem , mais gosto dos Animais )".
Aos meus queridos Fieis Amigos Mikko e Tigre, a onde querer que estejam, tenho-os no meu coração !.
Um dia havemos de nos encontrar...
Continuam a fazer parte da minha vida!!.
Obrigado Amiguinhos ,como me reconfortavam e me compreendiam, sem que nada vos dissesse...

Wolf , muito obrigado por ter o previlégio de merecer a tua Amizade . Aquele abraço !!
Párinha

16 de junho de 2012 às 19:35  

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