VALEU A PENA ...
Hoje resolvi soltar as amarras da Alma
e escrever o que há muito já deveria ter escrito e libertar o
pensamento.
Dizem os mais esotéricos, que antes
de nascermos escolhemos os pais, por outro lado uns dizem que tudo se
deve à genética...eu apenas digo...se foi escolha minha ...escolhi
bem o meu pai...se foi fruto da genética ...tive imensa sorte no pai
que tive.
O meu PAI...foi um pai sempre presente
e eternamente preocupado com todos aqueles que amava.
Possuidor de uma personalidade forte e
ativa, tinha um enorme coração que facilmente derretia, contudo sem
o deixar transparecer, da mesma forma era com a emoção, evitava ao
máximo transparecer emoções, apesar de neste últimos anos...já
não a conseguia ocultar...e ..por vezes os olhos brilhavam e lá
soltava uma lágrima, que lhe percorria as rugas do rosto como se de
um leito de um rio se tratasse.
Nem sempre era fácil lidar com a sua
personalidade, mas depois de entrar no interior da sua
fortaleza...tudo se tornava mais clarividente.
Adorava a vida, as infindáveis
tertúlias com amigos e família, debatendo-se os mais variados
temas.
Muitos foram os momentos partilhados,
a pesca submarina nos mares da Povoa de Varzim; as primeiras aulas de
natação, a sua paciência para me equilibrar em cima da bicicleta.
Relembro a bicicleta azul oferecida
pelo meu aniversário, os dias e noites passadas ao relento em montes
e serras, para ver o Rally passar.
E assim se foram passando os anos e as
pessoas crescendo e amadurecendo e eu regressando ao passado relembro
as inúmeras vezes em saia da Base Aérea nº 3 e ali estava
ele….solitáriamente à minha espera.
Percorríamos a velhinha estrada
nacional 1, com a habitual paragem para degustar um tostado leitão.
E isto tornou-se habitual, nas
diversas unidades que percorri.
Sinto saudades, do habitual café
matinal, no Café Bom Dia, onde colocávamos a conversa em dia, pois
a azafama da vida, nem sempre nos permitia este habito diário.
Creio que o fato de sermos muitos
parecidos é que por vezes gerou alguns conflitos e desentendimentos,
mas nada que não fosse ultrapassado.
Hoje entendo e agradeço a forma como
me educou e os seus ensinamentos, por vezes nem sempre entendidos,
mas com amadurecer da idade, estes tornam-se óbvios. Pois, por vezes
é necessário uma certa severidade, para assim aprendermos.
Eu tenho consciência que nem sempre
fui de índole de fácil trato.
Agora é que realmente sinto a sua
falta, mais do que no dia em partiu…apesar de por vezes não querer
exteriorizar e ao fazê-lo ..prefiro fazê-lo solitariamente...até
nisso somos parecidos.
Sinto a sua falta...muito poderíamos
ter dito um ao outro...muito mais poderíamos ter vivido...com
certeza que sim.
Falamos e vivemos o que assim
entendemos que tinha que ser e...éramos felizes.
Os últimos tempos acamado, segurando
a sua mão grande e enrugada, sentia, mais que um comprimido o que
mais reconforta as dores de um esvaído é um abraço...é o calor
humano.
Olhando-o nos olhos, perguntei-lhe…….
A resposta que tive, foi um olhar
transparente, tendo a sua Alma respondido com um par lágrimas, a
escorrerem pelo rosto…
Mais sinceridade na sua resposta, não
podia haver…
Foi neste momento, que que
consciencializei, que o meu pai queria fechar o seu ciclo, nesta
Vida, que eu deveria acatar. Sempre foi um timoneiro e sempre o foi
até ao ultimo momento.
Sempre acreditei, que fechando um
ciclo da Vida, se inicia um outro e assim a dor da perda física é
um pouco aliviada, transmitindo serenidade à Alma, de quem neste
ciclo fica.
Muito aprendi com o meu pai e até ao
seu ultimo fôlego eu aprendi. Aprendi que o Amor é o sentimento
mais nobre e puro.
Aprendi que o Amor é mais forte que a
Morte, apesar de ser este o nosso predestino.
Aprendi que na batalha entre a Vida e
a Morte, o maior aliado da Vida é o Amor...sem duvida uma grande e
ultima lição.
Até nisto o meu pai foi Grande.
O meu pai voou mais alto, para iniciar
uma nova caminhada e eu apesar do sentimento de perda, de consciência
tranquila e alma reconfortada por ter realizado o seu ultimo desejo,
apesar de este nunca me ter pedido, mas quando as almas se reconhecem
tornam o pensamento transparente e de fácil leitura.
Sei que partiu em paz.
Creio que foi este momento, que me
reconfortou a sua partida.
Hoje perguntei-lhe…
Ao que ele respondeu..
- Valeu pena ter vivido o que
vivi...ter amado quem amei..valeu a pena.
Sendo assim, tenho que agradecer quem
o amou para assim ter valido a pena.
E eu..eu tenho mais um anjo da
guarda...e uma estrelinha no céu, com luz própria que ilumina a
minha vida.
AAAAAAAUUUUUUU
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