quarta-feira, outubro 09, 2019

VALEU A PENA ...



Hoje resolvi soltar as amarras da Alma e escrever o que há muito já deveria ter escrito e libertar o pensamento.

Dizem os mais esotéricos, que antes de nascermos escolhemos os pais, por outro lado uns dizem que tudo se deve à genética...eu apenas digo...se foi escolha minha ...escolhi bem o meu pai...se foi fruto da genética ...tive imensa sorte no pai que tive.

O meu PAI...foi um pai sempre presente e eternamente preocupado com todos aqueles que amava.

Possuidor de uma personalidade forte e ativa, tinha um enorme coração que facilmente derretia, contudo sem o deixar transparecer, da mesma forma era com a emoção, evitava ao máximo transparecer emoções, apesar de neste últimos anos...já não a conseguia ocultar...e ..por vezes os olhos brilhavam e lá soltava uma lágrima, que lhe percorria as rugas do rosto como se de um leito de um rio se tratasse.

Nem sempre era fácil lidar com a sua personalidade, mas depois de entrar no interior da sua fortaleza...tudo se tornava mais clarividente.

Adorava a vida, as infindáveis tertúlias com amigos e família, debatendo-se os mais variados temas.

Muitos foram os momentos partilhados, a pesca submarina nos mares da Povoa de Varzim; as primeiras aulas de natação, a sua paciência para me equilibrar em cima da bicicleta.

Relembro a bicicleta azul oferecida pelo meu aniversário, os dias e noites passadas ao relento em montes e serras, para ver o Rally passar.

E assim se foram passando os anos e as pessoas crescendo e amadurecendo e eu regressando ao passado relembro as inúmeras vezes em saia da Base Aérea nº 3 e ali estava ele….solitáriamente à minha espera.

Percorríamos a velhinha estrada nacional 1, com a habitual paragem para degustar um tostado leitão.

E isto tornou-se habitual, nas diversas unidades que percorri.

Sinto saudades, do habitual café matinal, no Café Bom Dia, onde colocávamos a conversa em dia, pois a azafama da vida, nem sempre nos permitia este habito diário.

Creio que o fato de sermos muitos parecidos é que por vezes gerou alguns conflitos e desentendimentos, mas nada que não fosse ultrapassado.

Hoje entendo e agradeço a forma como me educou e os seus ensinamentos, por vezes nem sempre entendidos, mas com amadurecer da idade, estes tornam-se óbvios. Pois, por vezes é necessário uma certa severidade, para assim aprendermos.

Eu tenho consciência que nem sempre fui de índole de fácil trato.

Agora é que realmente sinto a sua falta, mais do que no dia em partiu…apesar de por vezes não querer exteriorizar e ao fazê-lo ..prefiro fazê-lo solitariamente...até nisso somos parecidos.


Sinto a sua falta...muito poderíamos ter dito um ao outro...muito mais poderíamos ter vivido...com certeza que sim.

Falamos e vivemos o que assim entendemos que tinha que ser e...éramos felizes.

Os últimos tempos acamado, segurando a sua mão grande e enrugada, sentia, mais que um comprimido o que mais reconforta as dores de um esvaído é um abraço...é o calor humano.





Olhando-o nos olhos, perguntei-lhe…….

A resposta que tive, foi um olhar transparente, tendo a sua Alma respondido com um par lágrimas, a escorrerem pelo rosto…
Mais sinceridade na sua resposta, não podia haver…

Foi neste momento, que que consciencializei, que o meu pai queria fechar o seu ciclo, nesta Vida, que eu deveria acatar. Sempre foi um timoneiro e sempre o foi até ao ultimo momento.

Sempre acreditei, que fechando um ciclo da Vida, se inicia um outro e assim a dor da perda física é um pouco aliviada, transmitindo serenidade à Alma, de quem neste ciclo fica.

Muito aprendi com o meu pai e até ao seu ultimo fôlego eu aprendi. Aprendi que o Amor é o sentimento mais nobre e puro.

Aprendi que o Amor é mais forte que a Morte, apesar de ser este o nosso predestino.

Aprendi que na batalha entre a Vida e a Morte, o maior aliado da Vida é o Amor...sem duvida uma grande e ultima lição.

Até nisto o meu pai foi Grande.

O meu pai voou mais alto, para iniciar uma nova caminhada e eu apesar do sentimento de perda, de consciência tranquila e alma reconfortada por ter realizado o seu ultimo desejo, apesar de este nunca me ter pedido, mas quando as almas se reconhecem tornam o pensamento transparente e de fácil leitura.

Sei que partiu em paz.

Creio que foi este momento, que me reconfortou a sua partida.

Hoje perguntei-lhe…

Ao que ele respondeu..

- Valeu pena ter vivido o que vivi...ter amado quem amei..valeu a pena.

Sendo assim, tenho que agradecer quem o amou para assim ter valido a pena.

E eu..eu tenho mais um anjo da guarda...e uma estrelinha no céu, com luz própria que ilumina a minha vida.



AAAAAAAUUUUUUU
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