O LOBO E A LUA
Com o cair da noite, abri a porta da toca. Focinhei
o exterior, sentia-se a humidade de Outono e o despertar dos seres noctívagos.
Saí e percorri o bosque, algo me impelia a
percorrer vales e montes, não sabia para onde ia mas sabia para onde queria ir.
A noite é o meu habitat, quem povoa á noite
tem uma forma de estar diferente dos seres que povoam o dia. Entre os
habitantes da noite, existe uma cumplicidade natural, que só quem aprecia a
noite, o entenderá.
E assim absorto ao que me rodeia, ia
caminhando solitariamente. Sentia nas patas, o frio e no pêlo a humidade, típica
de uma noite de Outono, um bafejo característico das Terras Altas, que me
despertou para o que me rodeava, sentindo ansiedade para chegar ao meu destino,
desconhecendo o porquê.
Encontrava-me no seio da Terra Alta, mas o
meu instinto, me dizia que não o suficientemente alto. Sendo um Lobo, sigo os
meus instintos e assim o fiz, continuei a caminhar.
Chegado ao topo das Terras Altas, contemplei
as estrelas….e…uivei…aaaauuuuuuaaaaaaauuuuuuuuuuu.
Uivei e voltei a uivar melancolicamente….que
ansiedade. Ela timidamente foi surgindo e com o seu brilho iluminou a Noite.
Respondendo ao meu apelo, estendeu-me os seus
braços e delicadamente abrindo o seu manto me albergou no seu regaço.
Contemplei a sua nudez, senti o seu calor, a sua pele macia, o seu perfume
familiar.
Envolvemo-nos, iniciando uma dança lentamente
e ritmada. Paramos o relógio do Tempo, desconheço se a dança durou um minuto ou
uma hora, mas também não é o essencial. O fundamental foi a cumplicidade vivida
e o momento partilhado.
Com a delicadeza com que me acolheu, com a
mesma delicadeza devolveu o meu espírito. Completado todo o meu Eu, voltei a
uivar-lhe…aaaaaaaaauuuuuuuuuu…mas desta vez em tom de despedida.
E assim iniciei o caminho de regresso, de
alma preenchida e realizada.
Este ritual, tem sido assim ao longo dos
Tempos. O Lobo e a Lua, sempre viveram apaixonados ao longo dos Tempos.
A história deste amor, remonta á criação do
Mundo. Quando o Ser Supremo, criou o Mundo e os seus habitantes, após ter
criado a Lua e o Lobo, constatou uma enorme cumplicidade e foi então que
decidiu colocar a Lua no Céu e o Lobo na Terra, para desta forma, evitar um
amor desmedido.
Abateu-se sobre eles uma grande tristeza,
quando tiveram conhecimento que nunca mais se encontrariam.
Mas não foi esta separação física que pôs fim
ao amor entre ambos. A Lua no seu alto, tinha no pensamento o seu Lobo, demonstrando-lhe
o seu afecto, pelas suas várias fazes, pois a Lua é Mulher e como Mulher, tem
fases.
Por sua vez o Lobo, respeitando os ciclos da
Lua, ia contemplando-a, aguardando solitariamente pela sua fase plena.
Ainda hoje vivem assim, ele solitariamente,
ela no alto acompanhada das estrelas e quando se sente preparada, a Lua responde
ao apelo do Lobo e dão asas ao amor.
Ambos estavam fadados ao amor espiritual em
detrimento do prazer carnal. Mas será aquele que se deleita nos braços da sua amada,
que se sentirá mais realizado, do que aquele que beija a sua amada espiritualmente?
Será que ficará mais satisfeito, aquele que
devora várias presas ou aquele que degusta apenas uma?
Caros amigos, quando ouvirem um Lobo a uivar
saibam que está a chamar pela sua amada e quando observarem o brilho da Lua,
saibam que é o brilho do Amor.
Se o Ser Supremo, não conseguiu pôr fim ao
amor, também não será os Homens que o conseguirão fazer.
Não há amor impossível.
AAAAAAAAUUUUUUUUUUUUU