O JOVEM E A ANCIÃ
O sol irradiava todo o seu esplendor, envolvendo-o nos seus raios, enquanto melancolicamente percorria o passadiço, acompanhado pelo oceano.
Por sua vez, o mar espraiava-se pacificamente, libertando o seu perfume que era transportado pela ligeira brisa.
Enquanto caminhava, os pensamentos iam e vinham, enquanto outros surgiam.
Tentando-se abstrair, dos pensamentos que persistiam em saltitar na sua mente, sentou-se num comum banco em madeira, igual a tantos outros existentes à beira mar.
Nos breves instantes, que o seu pensamento o permitia, contemplava o mundo de Anfitrite.
- Boa tarde, jovem.
- Boa tarde. – Respondeu mecanicamente, sem desviar o olhar da paisagem que contemplava.
Repentinamente, a saudação, fê-lo regressar ao banco de madeira, igual a tantos outros existentes à beira mar.
E lentamente, observou ao seu lado…uma senhora, de cabelos compridos cor de prata, de vestido comprido e retalhado em tons de roxo terminando numas sandálias, num couro comido pelo tempo.
Um sere marcado pela idade, as suas rugas, apesar de delicadas refletiam episódios de uma vida, apoiadas por umas mãos desgastadas, mas firmes.
Mas o seu olhar….seus olhos verdes…irradiavam ternura, transparência.
Um olhar, tão profundo que…teve a sensação de estar a ser invadido no seu pensamento.
Um olhar que o encandeou, mais que os raios lançados por Hélio, do alto do seu trono.
A brisa que outrora transportava o odor a maresia, agora espalhava uma fragrância…tentava decifrar o aroma…até que o seu olfato lhe deu a resposta…rosas ..sim..perfume de rosas.
- Olá, a Senhora é daqui perto?
- Sim. – Soou uma voz, calma e melódica.
- De onde? – Retorquiu, ao mesmo tempo que a sua curiosidade ia adensando.
- Jovem, sou de todo o lado e de nenhum.
A breve conversa, tinha embebido o seu espírito, além da sensação de a idosa o ter envolvido num manto místico.
- Sou do Mundo, como tu, como todas as criaturas. Pertencemos todos ao Mundo, mas não temos o Mundo como nosso. Somos todos criaturas do Mundo.
Esta resposta, fê-lo esquecer os pensamentos que o perseguiam, esquecer o oceano…tudo à sua volta, deixou de fazer sentido.
- Que idade tem?
- Jovem, sou uma Alma Velha, já não conto a idade, apenas guardo os momentos.
A nobre senhora efectivamente tinha-o cativado, transmitia-lhe tranquilidade e confiança e apesar de ser um jovem de poucas palavras e de refinada confiança, indagou:
- Diga-me…tem tido uma Vida proveitosa?
- Pareces desanimado com a Vida?
Não era esta a resposta que procurava, afinal de uma pergunta resultou uma outra pergunta, que o tirou da sua zona de conforto.
Instintivamente, baixou o olhar e direccionou-o para o além.
Mas mesmo assim, sentia necessidade de responder, nem que fosse só por respeito, mas também não sabia, ou melhor, não queria abrir as alas da alma e responder, tendo libertado um grunhido.
- Óóó…não tem sido fácil. Mas não respondeu…tem sido proveitosa? – Olhando de novo para a idosa.
- Jovem, depende do conceito de proveitosa. Não tenho casa, pernoito onde a Lua me dá abrigo, não tenho carro, apenas umas sandálias, gastas e velhas, mas confortáveis, alimento-me daquilo que a mãe natureza, tem a bondade de me oferecer. Tudo isto me alimenta o espírito, me faz crescer como Sere, colher bondade para semear amor. Apenas vou para onde o meu espírito me leva.
E continuou…
- Jovem,..e tu para onde queres ir ?
- Eu?!!...Para o Paraiso!! - Respondendo em tom de desabafo.
- Jovem, assim sendo, não te distraias, não percas tempo, pois a viagem é curta. Estamos aqui só de passagem, esmera todos os instantes. Eles sim são eternos. Não sobrecarregues a mochila, mas enche o coração. Não busques o fim da viagem, mas aproveita a viagem de olhar o teu interior, para te conheceres. O importante não é o fim, mas o caminho percorrido.
Cada vez mais sentindo-se envolvido por aquela estranha, replicou
- Não é fácil, as vezes custa…doi, entende?
- Jovem, o que doí não é o coração…é o amor!
- Verdade...Senhora, com a sua idade não tem medo de morrer um dia?
- Jovem, só morremos na idade do fim, a culpa não é do Tempo, é do vento que leva o Tempo. É apenas um dia, de muitos dias vividos. O Fim é sempre o Inicio.
Estas palavras, alias todas, percorriam-lhe a mente.
- De onde me conhece?
- Rapaz, sou uma Alma de muitas Vidas e muitos sítios. E essa resposta, tu próprio a encontrarás.
Voltando o olhar para o oceano, respirou fundo, ganhando coragem para uma pergunta que desde de inicio, queria resposta…
- Senhora…Quem é?
Sem ter coragem de voltar a cruzar o olhar, manteve-se em silencio à espera de tão ansiada resposta, até que após breves segundos, um tom de voz sereno lhe respondeu…
- Sou uma anciã, uma curandeira da alma.
De imediato, fitou o olhar para a idosa..
Mas da mesma forma, que esta havia surgido, assim se desvaneceu…permanecendo no ar, o seu aroma a rosas.
Inspirou profundamente, como que a guardar aquele aroma, no seu interior, tão familiar de tempos idos...perfume de rosas brancas.
Recostou-se no banco em madeira, igual a tantos outros existentes à beira mar…fechou os olhos e pela primeira vez…deixou os raios de sol invadir os seu corpo, envolver-se pela brisa com perfume a maresia e assim deixou-se embalar pela ritmo das ondas.
AAAAUUUUUUUUUUUU
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