terça-feira, outubro 19, 2010

A FLOR DE SAL

Memórias de um Lobo Solitário


Olá amigos:
Pela primeira vez, li um livro de Rosa Lobato Faria, de titulo “A FLOR DE SAL” e aconselho vivamente a lerem, sendo este o seu nono romance editado.

Considero que este romance engloba duas histórias, a de Afonso Sanches, um navegador, e a de Guiomar, uma escritora que retrata a vida e feitos de Afonso Sanches, quando este lhe surge na forma de espírito e lhe pede para esta escrever os seus feitos. Um livro envolvente  que nos catapulta para a História e nos pontapeia para o Presente.

Este romance retrata a vida de Afonso Sanches que teria chegado à América doze anos antes de Colombo e ao dar conhecimento do seu feito a D. João II, teria ordenado que se calasse, já que estava em curso o Tratado de Tordesilhas, que dividiria o mundo “em duas partes iguais”, ao que Afonso Sanches aceita patrioticamente e com a humildade que o caracteriza o que lhe impõe o rei.

A vida de Afonso Sanches surge por Guiomar, irmã gémea de Lourenço. O marinheiro materializa-se todas as noites, e conta-lhe a sua história. Ela ouve atentamente, e em seguida mergulha na pesquisa de mapas, obras de viajantes, crónicas do século XV, de modo a poder também ela, a seu modo, viver, narrar e aprender com o navegador, pelo qual se acaba por apaixonar, Nunca nenhum me tinha declarado, agora és minha, estás às minhas ordens. Quero que escrevas a minha história ignorada, que virei contar-te, noite após noite…o meu nome é Afonso Sanches e sou navegador de Portugal”.

Ao mesmo tempo que conta a história de Afonso, descreve-nos o seu romance com o seu irmão Lourenço. Ambos – Guiomar e Lourenço – se consideram a metade perdida um do outro, e vivem com ardor esta paixão, com tudo que nela há de bom e de mau, de fantasia e de casualidade. Consideram-se dois corpos com uma alma, Somos duas metades de um fruto perfeito, que vieram ao mundo aparentemente separadas mas destinadas a formarem um todo”, que apenas se altera no final do romance, quando já morta, Guiomar descreve: Sabemos agora, que sempre soubemos, que não somos, sem fomos complementares. O homem e a mulher não o são. Nem no mesmo ser, o lado feminino e o lado masculino se complementam. Antes se penetram de forma inextrincável, e em cada pensamento, em cada sentimento, em cada acto há a mistura dos dois.
As almas dos seres que se amam não se complementam, entrelaçam-se. Construímos a nossa lenda de complementaridade sobre as ultimas palavras da nossa mãe, tive um filho divido em dois.
Foi o que nos marcou. Tudo o resto foram pretextos para a paixão.”

Enquanto Guiomar vivia o amor por Lourenço, por outro lado Afonso Sanches, durante a sua vida teve várias mulheres e é fascinante a forma como a autora do romance descreve as cenas tórridas de paixão e desejo, do envolvimento do navegador com elas, “Tomou-a por trás e ela era a figura de proa de nau perdida naquele temporal de raiva, tomou-a pela frente como se quisesse despedaçar-lhe as entranhas e afunda-la no abismo do mar.” Algo que contrasta com a candura da Rosa Lobato Faria

A todas elas o navegador o navegador dedica parte da sua glória, por Inês, apaixonou-se aquando jovem, e assim continuou apaixonado toda a vida, juntando-se a esta no fim do livro e perfilhando os seus filho; por Brites Colaço sua irmã de leite e vizinha com quem se envolveu carnalmente a muito custo; por Josefa que com o seu cacarejar evitou que se torna-se criador de vacas; Libânia a rameira de porta aberta, que o curou com devoção e alegria, atempo de embarcar na nau de Álvaro Coelho e não esquecendo Ita, a índia que com o seu corpo cor de barro, erotismo e nudez mais lhe parecia uma deusa.

Na América, teve tudo para aí ficar nos braços de Ita, mas como a autora descreve logo no seu inquito coração nasce o veneno que se chama saudade, ou esse outro que se chama aventura e já quer o homem partir para a frente ou regressar para trás”.

 Espantosas são as três personagens, Afonso Sanches, Guiomar e seu irmão Lourenço, que apesar de aparentemente serem tão diferentes, são no fundo muito semelhantes, pois todas elas não abdicam do que os particulariza que constitui a vida de todos eles.

E no fundo é esta forma de estar na vida, que deveríamos manter, cada um com a singularidade o que hoje em dia se torna mais raro, pois há uma tendência cada vez mais frequente a moldarem-se aos desígnios da sociedade.

AAAAAAAAAUUUUUUUUUUU
AAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUUU

DIREITOS RESERVADOS - PROIBIDA QUALQUER CÓPIA OU REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA