A FLOR DE SAL
Memórias de um Lobo Solitário
Olá
amigos:
Pela
primeira vez, li um livro de Rosa Lobato Faria, de titulo “A FLOR DE SAL” e
aconselho vivamente a lerem, sendo este o seu nono romance editado.
Considero
que este romance engloba duas histórias, a de Afonso Sanches, um navegador, e a
de Guiomar, uma escritora que retrata a vida e feitos de Afonso Sanches, quando
este lhe surge na forma de espírito e lhe pede para esta escrever os seus
feitos. Um livro envolvente que nos
catapulta para a História e nos pontapeia para o Presente.
Este
romance retrata a vida de Afonso Sanches que teria chegado à América doze anos
antes de Colombo e ao dar conhecimento do seu feito a D. João II, teria
ordenado que se calasse, já que estava em curso o Tratado de Tordesilhas, que
dividiria o mundo “em duas partes iguais”, ao que Afonso Sanches aceita
patrioticamente e com a humildade que o caracteriza o que lhe impõe o rei.
A vida de Afonso Sanches surge por
Guiomar, irmã gémea de Lourenço. O
marinheiro materializa-se todas as noites, e conta-lhe a sua história. Ela ouve
atentamente, e em seguida mergulha na pesquisa de mapas, obras de viajantes,
crónicas do século XV, de modo a poder também ela, a seu modo, viver, narrar e
aprender com o navegador, pelo qual se acaba por apaixonar, “ Nunca
nenhum me tinha declarado, agora és minha, estás às minhas ordens. Quero que
escrevas a minha história ignorada, que virei contar-te, noite após noite…o meu
nome é Afonso Sanches e sou navegador de Portugal”.
Ao mesmo tempo que conta a história de
Afonso, descreve-nos o seu romance com o seu irmão Lourenço. Ambos – Guiomar e
Lourenço – se consideram a metade perdida um do outro, e vivem com ardor esta
paixão, com tudo que nela há de bom e de mau, de fantasia e de casualidade.
Consideram-se dois corpos com uma alma, “
Somos duas metades de um
fruto perfeito, que vieram ao mundo aparentemente separadas mas destinadas a
formarem um todo”, que apenas se altera no final do romance,
quando já morta, Guiomar descreve: “ Sabemos agora, que sempre soubemos, que
não somos, sem fomos complementares. O homem e a mulher não o são. Nem no mesmo
ser, o lado feminino e o lado masculino se complementam. Antes se penetram de
forma inextrincável, e em cada pensamento, em cada sentimento, em cada acto há
a mistura dos dois.
As almas dos seres que se
amam não se complementam, entrelaçam-se. Construímos a nossa lenda de
complementaridade sobre as ultimas palavras da nossa mãe, tive um filho divido
em dois.
Foi o que nos marcou. Tudo
o resto foram pretextos para a paixão.”
Enquanto
Guiomar vivia o amor por Lourenço, por outro lado Afonso Sanches, durante a sua
vida teve várias mulheres e é fascinante a forma como a autora do romance
descreve as cenas tórridas de paixão e desejo, do envolvimento do navegador com
elas, “Tomou-a por trás e ela era
a figura de proa de nau perdida naquele temporal de raiva, tomou-a pela frente
como se quisesse despedaçar-lhe as entranhas e afunda-la no abismo do mar.”
Algo que contrasta com a candura da Rosa Lobato Faria
A
todas elas o navegador o navegador dedica parte da sua glória, por Inês,
apaixonou-se aquando jovem, e assim continuou apaixonado toda a vida,
juntando-se a esta no fim do livro e perfilhando os seus filho; por Brites
Colaço sua irmã de leite e vizinha com quem se envolveu carnalmente a muito
custo; por Josefa que com o seu cacarejar evitou que se torna-se criador de
vacas; Libânia a rameira de porta aberta, que o curou com devoção e alegria,
atempo de embarcar na nau de Álvaro Coelho e não esquecendo Ita, a índia que
com o seu corpo cor de barro, erotismo e nudez mais lhe parecia uma deusa.
Na
América, teve tudo para aí ficar nos braços de Ita, mas como a autora descreve “ logo
no seu inquito coração nasce o veneno que se chama saudade, ou esse outro que
se chama aventura e já quer o homem partir para a frente ou regressar para trás”.
Espantosas são as três personagens, Afonso Sanches,
Guiomar e seu irmão Lourenço, que apesar de aparentemente serem tão diferentes,
são no fundo muito semelhantes, pois todas elas não abdicam do que os
particulariza que constitui a vida de todos eles.
E
no fundo é esta forma de estar na vida, que deveríamos manter, cada um com a
singularidade o que hoje em dia se torna mais raro, pois há uma tendência cada
vez mais frequente a moldarem-se aos desígnios da sociedade.
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