O Manto negro da Beatificação de Pio XII

Com tanta chuva e vento refugiei-me, solitariamente no aconchego da minha toca, quando subitamente chega-me aos ouvidos, sua Santidade o Papa deseja beatificar o seu defunto antecessor Pio XII.

 Tal notícia, deixou-me estupefacto obrigando-me a viajar no tempo, programando a viajem para o dia 01 de Março de 1939. E porquê este dia? 

Neste dia, pelas 06H00, na Capela Sistina, sessenta e dois cardeais dão inicio ao Conclave, em virtude de o Papa Pio XI ter falecido tranquilamente no dia 10 de Fevereiro de 1939. 

Após um Conclave mais rápido ao longo de mais de trezentos anos, no dia 02 de Março o Cardeal Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli é eleito Papa, adoptando o nome de Pio XII. 

Esta eleição, foi uma das mais politizadas da história do papado. 

Londres, Paris e Washington desejavam um novo Papa dentro da corrente que Pio XI, contra a política de Hitler e Mussolini, por sua vez Roma e Berlim desejava um papa mais germanófilo e menos pós-aliados. 

Enquanto o que o papa Pio XI, se mostrava decidido a lançar um duro protesto contra Adolf Hitler e o regime do Terceiro Reich, Pio XII, pretendia suavizar essa posição, pelo que se verifica numa carta enviada ao Fuher: 

“ Ao ilustre Herr Hitler, Fuher e chanceler do Reich alemão. No começo do Nosso Pontificado desejamos garantir que continuamos comprometidos com o bem-estar espiritual do povo alemão entregue à sua liderança (…) Agora que as responsabilidades da Nossa função pastoral aumentaram as Nossas oportunidades, rezamos muito mais ardentemente pelo êxito desse objectivo. Que a prosperidade do povo alemão e o seu progresso em todos os domínios se possa alcançar com a ajuda de Deus!” 

Além do seu manifesto apoio à política de Hitler, a Santa Sé também apoiou os ustachis, na Croácia que realizaram uma autêntica política de terror baseada no assassínio sistemático de servos ortodoxos, ciganos, judeus e comunistas, declarando-os “a grande avançada da Cristandade”. 

Existem registos, que um agente da Santa Aliança informou as atrocidades num relatório enviado ao Vaticano:

“ Muitos deles (os padres franciscanos) passeiam-se armados e levam a cabo com um extraordinário zelo os seus actos assassinos. Um padre chamado Bozidar Bralow, bem conhecido por trazer uma metralhadora, foi acusado de dançar à volta dos cadáveres de cento e oitenta sérvios assassinados em Alipasin-Most e um outro de atiçar os bandos de ustachis de crucifixo na mão, enquanto cortavam o pescoço às mulheres sérvias."

Quando em Janeiro de 42, numa vivenda nas margens do lago Wansee, se reuniram quinze hierarcas nazis, presididos por Heydrich, tendo resultado dessa reunião por unanimidade a chamada “Solução Final”, que consistia no extermínio de todos os judeus da Europa, ou seja onze milhões. 

Vinte dias após esta reunião a Santa Aliança (serviços secretos do Vaticano) informou sua santidade Pio XII, do teor da reunião e as suas conclusões. 

Uma das perguntas que faço é porque razão é que a Igreja Católica, o papa Pio XII, o Vaticano tendo tal conhecimento nada fizeram para deter a mortandade de judeus ou simplesmente os condenar? 

Não nos esqueçamos igualmente da organização ODESSA e do famoso CORREDOR DO VATICANO, que permitiu a fuga de muitos nazis para a Europa e América Latina, com a conivência do Vaticano a toca de muito ouro. 

Com inúmeros Papas ao longo da História, porquê beatificar Pio XII ?? 

A Santa Sé será que quer enaltecer os actos do Pio XII ou será que com esta beatificação quer ocultar os seus actos? 

Assim, com o seu manto branco beatifica o Pio XII, como forma cobrir os seus actos censuráveis. 

Ocultando posturas politicas orientadas pela cobiça e pelo poder, relegando para um patamar inferior a essência da Vida e os valores morais tão apregoados pela Igreja. 

Com esta beatificação, o Vaticano não atormenta só os sobreviventes do Holocausto como não deixa sossegado as vitimas, de um período negro da História da Humanidade. 

Considero que está na hora de cada qual assumir as suas responsabilidades no conflito e deixar de se refugiar atrás de uma cruz, para ocultar os seus actos. 

Mas a hipocrisia tem sido uma constante ao longo dos tempos, por parte da Igreja, apregoando valores morais, que não pratica. 

Defendendo os mais fracos e carecidos, quando tem os seus cofres cheios; criticando ditadores quando a própria Igreja é intransigente às mudanças de pensamento. 

Observemos que em pleno século XXI, a igreja continua a defender acerrimamente os valores morais que defendia no século XVI, mudando apenas as palavras mas não o seu conteúdo. 

A Santa Sé actualmente, deveria preocupar-se não com beatificações mas sim em denunciar os seus fiéis padres pedófilos, que se refugiam nos muros do Vaticano. 

Pois assim transparecia uma imagem mais pura e sincera, do que aquela que tem agora. 

É tão culpado aquele que pratica o Mal como aquele que se silencia e fecha os olhos.

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