terça-feira, maio 19, 2009

Anjo da Morte

Memórias de um Lobo Solitário

“ São muitas as pessoas que, por seu pavor à morte, estão deixando de realmente viver” – Paul Simonton
Hoje vou falar de um assunto considerado tabu, para muitos…a Morte.
Todos nós de alguma forma já fomos assolados pela sua presença.

O meu primeiro encontro com a morte, foi aquando o falecimento da minha avó. Nunca ninguém me tinha falado sobre a Morte. Quem era, porque se aproximava e levava consigo entes queridos.

Creio que a minha maior dificuldade foi ter que viver sem a minha avó e não a experiencia de a ter visto na urna, não a considero uma experiencia traumática, talvez tivesse sido mais traumática se não me tivesse sido dada a oportunidade de a ver pela última vez.

Eu entendo que a Vida é um dom maravilhoso e quando se a ama, vivemos momentos de plenitude, mas a Vida está associada à Morte. Costumo dizer que a única certeza que temos quando nascemos é a Morte.

Ainda hoje se considera a Morte um assunto tabu. Não se fala da Morte, porque além de ser desconhecida, misteriosa, não sabemos aceita-la e conviver com ela.

E como não conseguimos uma explicação lógica, a única saída é ignora-la e evitar a todo o custo falar dela. No entanto para podermos viver e apreciar a Vida, deveremos ter consciência da Morte e saber que está presente.

Explicamos às crianças, tudo o que é possível ensinar e a sua forma de lidar com as situações. Actualmente já não se diz as crianças, que quem as trouxe ao Mundo, foi a cegonha, mas no entanto evitamos falar-lhes da Morte ou qualquer contacto com ela, alegando que poderá ser traumática para a sua vida futura.

Da mesma forma que a pergunta da origem da Vida incomodava os nossos antepassados, também a pergunta para onde foi o avô, aquando a sua morte, incomoda actualmente e contorna-se a questão e o cerne da situação.

Mas, será que é traumática para a criança ou será que os adultos é que não querem abordar o tema e muito menos ser sujeitos a qualquer interrogação sobre o assunto?

Até mesmo o simbolismo que dá-mos á Morte, nas suas imagens nunca se lhe vê o rosto, sempre munida da sua foice. Desde do inicio da Humanidade, tudo que o Homem não conseguia explicar era temido e evitado, com a Morte ainda hoje sucede o mesmo. Pois a viagem que se faz, nunca ninguém regressa a relatar e a explicar o sucedido.

E o Mito da Morte continua sem explicação

Como relógio da Vida não pára, a nossa ansiedade vai também aumentando e fazendo tudo por tudo para atrasar um encontro com a Morte, porque no íntimo de cada um temos a perfeita consciência que somos seres débeis e vulneráveis e acima de tudo MORTAIS.

Fazemos tudo para a adiar desejando uma juventude, força e saúde constante, porque acreditamos que com tudo isso adiamos a velhice e a Morte.

Mas a Morte e a Vida são duas companheiras inseparáveis, pois a partir do momento que começamos a viver iniciamos a contagem decrescente para a Morte.

Concordo que o homem pode e deve prolongar esta vida, humanizá-la, torná-la sempre melhor, viver a Vida, apreciá-la e sempre consciente da Morte mas não de forma obcecada ou ignorante.

Quando alguém morre jovem, lamentamos a sua partida em função da idade, que ainda tinha muito para viver, mas quando se é idoso refugiamo-nos na idade, dizendo que já era velho e foi preferível partir a estar a sofrer.

No entanto não significa que a longa vida do idoso tenha sido mais satisfatória que a do jovem apesar de curta.

Se a nossa vida é insatisfatória, não é porque seja curta, mas porque nunca satisfazemos as nossas aspirações mais profundas. Deveremos viver a Vida, sendo felizes e amando para que no momento em que sejamos visitados pelo Anjo da Morte, abalemos satisfeitos de uma Vida plena e preenchida.

O filme “Vivendo na Eternidade”, há uma cena em que um dos personagens tenta explicar os seus sentimentos, por não fazer parte do ciclo normal da vida, declarando: - “ Não tenho medo da morte. Tenho medo da “vida não vivida””.

Não precisamos viver para sempre, só precisamos de viver.

O facto é que quando deixamos de viver em função do medo da morte, passamos a morrer até mesmo antes de havermos morrido.

Pelo menos aos olhos do Anjo da Morte, somos todos iguais, os que partem, sejam ricos ou pobres nada levam com eles a não ser o amor que os acompanha.

“Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu, talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”. Sêneca.

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