segunda-feira, novembro 27, 2006

Mão estendida...

Memórias de um Lobo Solitário
Olá meus amigos:

Aqui estou eu depois de uma breve ausência.
O que a seguir vos vou relatar, foi um episódio que se passou numa tarde solarenga de Verão, igual a tantas outras.

Estava eu, completamente absorvido nos meus pensamentos, em determinada confeitaria povoada de etiquetas e boas maneiras, quando uma singela voz me fez acordar para a realidade.

Tal voz, era de uma menina com cerca de 10 anos, cabelos comprido, tez morena, a pedir esmola.
Como estava tão longe em pensamento, não me tinha apercebido da sua presença nem sequer havia ouvido as suas palavras, pelo que com um olhar cabisbaixo, voltou a pedir esmola novamente.

Confesso sinceramente, que não sou pessoa de dar esmolas, tenho a convicção que há outras formas de ajudar o próximo, sem ser com uma contribuição monetária. Por vezes umas simples palavras valem mais que meia dúzia de euros.

Foi então, que lhe disse, que dinheiro não lhe dava, mas que lhe pagava o que ela quisesse comer e beber, mas a petiz não aceitou.

Pedi-lhe para olhar para mim, mas miúda não tirava os olhos do chão. Ansiava ver o seu olhar. Para mim um olhar diz muito, transparece o que nos vai na alma, aliás os olhos são as janelas da Alma e do Coração e eu gosto de espreitar às janelas…

Timidamente voltou novamente a pedir esmola, ao que retorqui com a mesma resposta.

Apercebendo-se que dali não recebia nenhuma contribuição, abandonou a minha mesa e foi lentamente percorrendo as outras.

Finda a colecta, abandonou o estabelecimento, tão discretamente como momentos antes havia entrado.

Não tinham nem passado 10 minutos, quando surge uma outra criança.
Esta mais pequena que a primeira, não só em altura como em idade, nitidamente irmã da primeira.

Tal como a sua primogénita, percorreu todas as mesas, até chegar a minha vez.

Mas, esta criança fitou-me nos olhos e…eu pude contemplar o brilho amêndoado e límpido, de um olhar que transparecia a inocência, meiguice e ternura de uma criança da sua idade, não conseguindo ocultar a dureza da vida e de uma infância perdida, diferente de muitas outras crianças, mas infelizmente, igual a tantas outras.

Ao chegar junto de mim, estendeu a sua pequena mão aberta.

Uma mão estendida e aberta, não significa que se esteja a pedir esmola, mas sim, um pedido de ajuda. Por isso, com uma mão tão frágil estendida perante mim eu estendí as duas.

Enquanto isso e nos olhávamos nos olhos, disse-lhe “Olá, queres lanchar?”.

De imediato o meu pedido foi aceite e a pequena cinderela, optou por lanchar na mesa ao lado da minha.

Surgiu a empregada e a miúda fez o seu pedido. Findo o lanche, agradeceu e saiu, seguindo o seu destino solitariamente por uma rua cheia de gente, típica de uma tarde de Verão.

Caros amigos, não paguei só um lanche à miúda ou lhe saciei a fome do momento ou o que quiserem chamar… talvez o que ficou saciado foi o seu ego, pois pôde ser por breves momentos, uma menina “grande”, bem comportada e com maneiras e educação a uma mesa, rivalizando com os demais.

Quantos de nós, já não desejamos algo, nem seja só por breves instantes…quanto mais uma criança.

Eu…que ali permaneci, optei por fuzilar olhos nos olhos, os merdas engalanados, armados em jet-set foleiro, que me rodeavam.

Pois é…a criança, apesar de andar a pedir esmola e de roupas esfarrapadas, encarou-me nos olhos, enquanto que alguns dos hipócritas que ali estavam, não o conseguiram fazer.

Aquela criança, apesar de 6 anos, provou à merda que povoava a confeitaria, ser mais rica de Espírito, que todos eles juntos.

Pecado não é pedir, seja ela de que forma for, quando se aceita a ajuda com dignidade e humildade.

Durante o Verão, cruzei-me várias vezes com ambas, e…bem…isso fica para contar outro dia.
Amigos, se estendêssemos mais vezes as mãos, sem complexos, sem interesses, de certeza que tudo era diferente.

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